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domingo, 28 de abril de 2013

Urgência de Ser



Rabisqueira feminina de Francisco Milhorança



É uma espera - do quê, não sei. Talvez do tempo que se ergue diante dos meus pés. Da ausência que se transforma em pólos opostos, do ir, desejar viver - mais que isto. Entendo como o encontro que se faz da mais alta perfeição que está à espreita, no limite, no abismo do meu corpo.


Intensamente, há uma entrega lenta que se faz de desejos e crenças. A multiplicidade das coisas que existem não faz sentido. É o mundo do caos que se estilhaça como cacos de vidros, transparentes e super delineados, que deixam passar pelas suas pequenas regiões intactas o aspecto verdadeiro do mundo que se mostra em sua total superficialidade.


É sentir-se o personagem principal do universo, ao passo que o redemoinho de atos se acumula e pede uma resolução urgente. Eis que surge a estranha urgência de tudo o que move e atormenta ou seria, de tudo o que ataca, com muita força, meu espírito intocável?

 Seria a anulação de toda e qualquer sensação do toque, do movimento estridente da pele e da intenção de dar um nome à estranha leveza que se acumula aos poucos, como o grito asfixiante que sai da garganta quando não há rumor de voz levado pelo vento. Suponho que é a sensação mais estranha que se pode sentir. Uma espécie de não existir como humano e tocável, apenas. Tudo se transforma no mundo fantástico e irreal: o quadro perfeito pintado por uma mente fiel criadora do interior que se mostra para os que se vêem como os portadores da sensibilidade do mundo. 

Escuto meu grito interior: “Sou criadora, pintei a imagem, como me visto, como me vejo e como sou diante dos olhos das pessoas que me espreitam diariamente: uma personagem de órbitas." Deleito-me com a idéia que existe a sutil diferença das sensibilidades. Sou feita de contrastes, do reflexo, do prisma que se faz do jogo das cores; da real sensação do toque, do gosto, do olhar, da expansão do meu corpo.


 A trilha que se abre - como posso chamar minha confusão de palavras e textos que dou formas, delineando o tapete de detalhes complexos do mundo dos sentidos – é minha forma de existir e a urgência última do meu ser.

***

4 comentários:

  1. Desnudar-se diante de todos é para poucos. Beleza de texto.
    Chico

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  2. Me senti leve enquanto lia, como se dominada pela marcação de um ritmo agradável. Adorei.
    Manu Dsouza

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  3. "Sou feita de contrastes, do reflexo, do prisma que se faz do jogo das cores; da real sensação do toque, do gosto, do olhar, da expansão do meu corpo." Também me sinto assim, às vezes.
    bjs, parabéns pelo blog.
    Sandra

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  4. Estou encantado com teus textos! Parabéns.

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