Dizia-se
Clarice. Seu nome soava como algo complexo, arrebatador, sutil nas palavras que
usava para acatar seu gosto pelas palavras, jamais para instigar a tradução de
sua alma.
Ousada,
diria eu. Mas ela, corajosa algumas vezes, porém, não diante de indivíduos que
lhe distraiam pela força esmagadora da vida.
Clarice
era insuportavelmente dona de si. Transitava entre os personagens e vivenciava
os tédios e angústias dos palcos armados para as trágicas encenações. Fora
assim desde que se conhecera e pudera rotular-se de Clarice. Sim, porque o nome
é a representação da alma, para ela, o comando arredio do corpo.
Dos
seus personagens tinha a revelação de si - a epifania -, como costumava
relatar. O momento, o ápice da coisa, da palavra, do questionamento,
significava além das histórias que se passavam corriqueiramente dentro de si;
existiam personagens, divinos, solenes, que enfeitiçavam suas crônicas.
Clarice
vivia constantemente arrebatada pelo poder das palavras; angustiada com as ficções
que lhe mordiam os nervos; paralisada com o mormaço que camuflava o sangue
humano; vívida, pelo poder que lhe conferia a criação dos palcos; envolvida,
sobretudo pelas suas personagens quase humanas. Tinham formas, nomes,
sensações, falavam consigo, titubeavam, exerciam suas individualidades e também
se achavam donas de si, de seus romances complexos.
Romances
e ficções se cruzavam dramaticamente - o clímax constantemente passeando
enfático pelos enredos; de tons, cores, degradês violáceos, enfileirados na
escuridão constante da noite das suas personagens de almas femininas e
instintos animalescos; vestiam-se e caprichavam na arrumação dos cabelos,
deixando sempre as costas nuas, provocativas, inquietantes, reveladoras de
enredos marcados pela sensualidade da alma.
Clara,
Marília, Maysa, Merle, Antônia, Janaína, Erika, Paulina, Alba; personagens;
almas femininas; tons de pele rosados; olhos castanhos, verdes, azuis, mel;
bocas vermelhas como deliciosas flores colhidas em campos flutuantes; dos seus
papéis encenados, a angústia de cada personagem; a iminência do clímax.
Sua
personagem maior, Clarice. A vida que se vivia; seus atos e suas peças; a
encenação em cada palco; a nudez feminina lhe trazia arrepios inacreditáveis,
vivenciava-os sorrateiramente, extraindo prazeres supostamente imaginados, não
vividos em sua forma clariciana.
Era
Clarice na sua forma de imaginar. De uma personagem a confusão se inicia;
imagine-a, de nomes, tonalidades, imaginação, transformada em Clarice.
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Perfeito !
ResponderExcluirLindo! Parabéns!
ResponderExcluirConvido a passear pelo meu humilde blog também. :)
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