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terça-feira, 30 de julho de 2013

Parou a vida com uma taça na mão

Imagem:http://delaburns.blogspot.com.br/2010/07/champa-nelas.html




Quando ela disse a si que parou sua vida, parecia que estava preparando uma bebida com várias combinações de frutas cítricas e fórmulas picantes indicadas pelo melhor barman da cidade – pensava, inquieta, que o pouco que conhecia de bebidas, coquetéis e drinks não a levaria a uma sequência de degustações, pois ela adoraria ser uma conhecedora das incontáveis metáforas que passeiam pelos sentidos inebriados.


Nos circuitos brilhantes que vinham perfurando meus olhos com um prazer indescritível, eu me via com uma taça esplêndida dando formas aos meus dedos macios, ao se enrodilhar ofegante pela haste longa enquanto inventava e criava algumas cenas numa casa noturna. Estava tudo, de repente, tão intenso como as esculturas pensativas e enervadas de A. Rodin. O mundo da menina que pensava ter sido parecia entendido naquele momento, os atos estendidos pelo chão, em câmera lenta, apropriando-se de tudo o que imaginei que existia em mim, na verdade, foi a profundeza da minha angústia - ela tomava rumos inesperados, até que chegasse outra agudeza sublime que me transportasse para a rota de calor dos trópicos, como dizem os apaixonados pelo mormaço e perfume que o mar resvala em nossa pele em dias intensos de verão.


As bolhas espumantes eram infinitas, pois a bebida caminhava devoradora pelo pulsante céu da boca, entrava escorregadia, procurando a passagem para o submundo interno da gente – aquele caminho que conhecemos de cor nas grandes ocasiões em que se é possível passar pelas aparências das coisas e depois se esconder por entre as pernas cambaleantes, cheias de espectadores, aplausos e merecimentos baratos. A felicidade inesperada causa certo desconforto na composição física do indivíduo, mas, às vezes leva a uma dimensão sem resquícios de controle para a exposição de sentimentos e gargalhadas por motivos aparentemente sem graça – digo isso para os que se chocam por pequenas banalidades necessárias.


O que realmente podia ver, tomando o aspecto pálido e sombrio à minha frente era um rosto que dizia muito de si, não titubeava um instante, pois era forte, mesmo com a descoloração momentânea que se esvaia naquela poltrona que sabia mais sobre seus infortúnios que ela. 

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