Eles jogavam numa sala, espantados com a passagem veloz do tempo. Estavam
em seu horário do almoço e já planejavam mais um jogo naquela sinuca que
presenciara várias gerações de trabalhadores extasiados em sua frente, não
saberia calcular ao certo quantos anos estava ali e por quantas cores, retaliações
e vernizes passara. Unia as pessoas, os jogadores, os transeuntes.
Os movimentos eram hábeis à sua volta, parecia mais um ritual da vida:
homens que balançavam de um lado para o outro, faziam planos, bolavam
estratégias, pensavam no futuro. Talvez o tempo real mesmo não estivesse ali,
mas sim a sensação inóspita e afoita da realidade clandestina que roubavam das
poucas horas do dia que lhes eram dedicadas somente para um descanso do corpo.
Descrevê-los, todos aqueles homens ali, de perfis e personalidades tão
diferentes e incomuns era uma prova psicológica em que eu não poderia adentrar
em mentes tão diversas. Não ouso pensar – não posso invadir órbitas que não são
minhas nem comprá-las. Seria uma forma de roubar-lhe talvez a parte que faltava
para uma vida completa, harmoniosamente entregue a uma curiosidade vizinha e
cúmplice. Poderiam nem saber o que desejariam para seus próximos minutos, mas
sabiam falar do que viam à sua volta – isto sim, sabiam! Eu os presenciei!
Confesso que eram histórias e casos corriqueiros, nada a mais que pode balançar
a mente em outras direções.
Falavam todos ao mesmo tempo, dando boas vindas aos que chegavam,
sugeriam táticas do jogo, comentavam sobre os acontecimentos do final de semana
e suas sensações presentes. O jogo que fluía como um espaço de lazer que fazia
a diferença naquela parte do dia, tão evasiva e que integrava suas naturezas às
limitações do universo em que viviam.
E, como as horas que corriam, disparadas contra o sossego daqueles
jogadores e peças do jogo, a vida ia passando sem interferências, seguia seu
curso livre, quase despercebida, mas não para mim, que anotava todos os
movimentos atenta ao ritmo do tempo. A partida estava quase no fim. Minha hora
e minha vida também, pois tinha deixado algo preso naquele lugar: minha
observação sempre presente no indescritível dia a dia banal que aparentemente
não tem graça.
Entre escrever, ouvir e observar como todas as entonações eram amigáveis
entre eles, pude fazer um paralelo daquele ambiente com a vida: tudo possui sua
intensidade, não importa de que lado se revele.
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