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quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Pausa para o jogo


Eles jogavam numa sala, espantados com a passagem veloz do tempo. Estavam em seu horário do almoço e já planejavam mais um jogo naquela sinuca que presenciara várias gerações de trabalhadores extasiados em sua frente, não saberia calcular ao certo quantos anos estava ali e por quantas cores, retaliações e vernizes passara. Unia as pessoas, os jogadores, os transeuntes.


Os movimentos eram hábeis à sua volta, parecia mais um ritual da vida: homens que balançavam de um lado para o outro, faziam planos, bolavam estratégias, pensavam no futuro. Talvez o tempo real mesmo não estivesse ali, mas sim a sensação inóspita e afoita da realidade clandestina que roubavam das poucas horas do dia que lhes eram dedicadas somente para um descanso do corpo.


Descrevê-los, todos aqueles homens ali, de perfis e personalidades tão diferentes e incomuns era uma prova psicológica em que eu não poderia adentrar em mentes tão diversas. Não ouso pensar – não posso invadir órbitas que não são minhas nem comprá-las. Seria uma forma de roubar-lhe talvez a parte que faltava para uma vida completa, harmoniosamente entregue a uma curiosidade vizinha e cúmplice. Poderiam nem saber o que desejariam para seus próximos minutos, mas sabiam falar do que viam à sua volta – isto sim, sabiam! Eu os presenciei! Confesso que eram histórias e casos corriqueiros, nada a mais que pode balançar a mente em outras direções.


Falavam todos ao mesmo tempo, dando boas vindas aos que chegavam, sugeriam táticas do jogo, comentavam sobre os acontecimentos do final de semana e suas sensações presentes. O jogo que fluía como um espaço de lazer que fazia a diferença naquela parte do dia, tão evasiva e que integrava suas naturezas às limitações do universo em que viviam.


E, como as horas que corriam, disparadas contra o sossego daqueles jogadores e peças do jogo, a vida ia passando sem interferências, seguia seu curso livre, quase despercebida, mas não para mim, que anotava todos os movimentos atenta ao ritmo do tempo. A partida estava quase no fim. Minha hora e minha vida também, pois tinha deixado algo preso naquele lugar: minha observação sempre presente no indescritível dia a dia banal que aparentemente não tem graça.


Entre escrever, ouvir e observar como todas as entonações eram amigáveis entre eles, pude fazer um paralelo daquele ambiente com a vida: tudo possui sua intensidade, não importa de que lado se revele. 

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